Diário de um náufrago

A viagem era amena, ao ritmo dum mar agora calmo.
As núvens desfaziam-se ao longe enquanto o sol lhe batia no rosto e a brisa era leve,
tão leve que quase cantava ao ouvido, baixinho.
Ele não temia o dia de amanhã, não o encarava com preocupação.
E todos os dias, à mesma hora, o sol voltava a encher-lhe o coração quase sem que se apercebesse disso.
Era simplesmente o embalar do mar que o levava
Sem rumo nem ponto de chegada, sem objectivos a alcançar.

Mas à medida que os dias foram sendo menos quentes e o caminho pareceu traçar-se diante dos seus olhos, a maré mudou. E com ela, a instabilidade do barco.

Percebeu então que não estava sozinho naquela viagem.
Os riscos de naufrágio eram cada vez maiores e só havia uma bóia..
De repente um rasgo de sol volta a encher o peito, como quem recarrega algo, de alguma forma.
Como quem inspira fundo para dar (mais) um passo em frente.
Mas as núvens não tardaram e com elas a tempestade.

Primeiro balançou ao de leve, depois a tempestade tomou conta do barco.
Embora aflito, deixou-se naufragar, não antes de ceder a bóia..
À medida que afundava toda a viagem lhe passou pela memória.
Viagem que, afinal, tinha sido tudo menos solitária. Foi curta, mas intensa.
Daquelas que sempre ficam recordadas num cantinho especial.
E perdeu todas as suas forças, com estes flashes no pensamento
E já sem oferecer resistência, deixou-se ir.

No dia seguinte acordou na praia.
Com o sol a bater-lhe no rosto..
.. novamente.

2 comentários:

Telma disse...

"No dia seguinte acordou na praia.Com o sol a bater-lhe no rosto.... novamente."

E voltou novamente a fazer outra viagem, na esperança que essa fosse mais calma e que o fizesse chegar ao destino.

No fundo é o que nos acontece a todos e todos anciamos pela chegada ao nosso verdadeiro porto.

Acredita que não será a ultima vez que vais acordar na praia mas tambem haverá o tempo que vais chegar a teu porto.

bjinhu grande

Anónimo disse...

Pareces estar a passar pelo mesmo que eu rapariga... Dou-me agora conta que toda a gente tinha razão quando diziam que eu devia ter amigos, acho que estou a precisar de um neste momento, não precisa de falar apenas de ouvir... Tu talvez precises do mesmo...
E como não nos vemos há tanto tempo, temos muito(ou não), para dizer um ao outro...
Gostava de voltar a apaixonar-me por ti se assim o permitires, e se essa for a minha vontade também... Neste momento não sei se acredito no amor, depois de tudo o que passei nos últimos meses...
Porque não nos encontramos a ouvir o piano de que tanto gostas no Saldanha?
Escreve qualquer coisa quando lá fores...